Tristão Gonçalves de Alencar Araripe foi um revolucionário, filho de Bárbara de Alencar (a primeira presa política do Brasil e também revolucionária), que participou da Confederação do Equador, movimento separatista contra o autoritarismo de D. Pedro I. O imperador, mesmo depois de um Brasil já independente, continuava ligado aos interesses da coroa. Tristão e os adeptos da Confederação reinvindicavam pelo direito do Brasil ser apenas o Brasil.
Tristão Gonçalves foi morto no combate em terras jaguaribarenses e é considerado um dos heróis da Confederação do Equador. Até hoje, sites e portais não reconhecem a terra que abrigou os últimos momentos de Tristão como Jaguaribara, e sim, Jaguaretama. E em uma terra que até hoje não foi reconhecida como a de sua morte, foi adotado o nome dele na maior honraria da cidade: Comenda Tristão Gonçalves de Alencar Araripe.
A Comenda foi criada em situação extraordinária, em 2019, quando a Irmã Bernadete foi contemplada. Irmã Bernadete também o símbolo de uma luta: a luta contra a inundação da antiga cidade pelo Castanhão. Em setembro do mesmo ano, um dos fundadores deste site, Francisco Cavalcante, também foi nomeado à maior honraria da cidade por ter levado o nome de Jaguaribara à nível mundial, quando participou do evento “Brazil Conference”, em Harvard, nos EUA.
Os nomeados de 2020
Aconteceu neste sábado (7), na Câmara Municipal, o evento de entrega dos títulos de cidadão e da Comenda Tristão Gonçalves, durante as comemorações do 63º aniversário de emancipação da cidade.
Com menos de um ano de criação, a lei da Comenda foi alterada em setembro, antes, podiam ser até dois nomeados por ano.
Em setembro, os vereadores alteraram a lei: agora, podem ser quatro por ano (imagem abaixo). Em ano de eleições, mesmo tendo alterado a lei, o legislativo jaguaribarense ficou fora dela. Doze pessoas foram nomeadas para a honraria.
Dentre os 26 nomeados ao título e à comenda, estavam os deputados Danilo Forte (PSB), Antônio Granja (PDT), Leonardo Pinheiro (PP), Mauro Filho (PDT) e Roberto Pessoa (PSDB). Além destes, nomes de figuras políticas do município também foram agraciados, como o prefeito Joacy Júnior e seu vice Zé Filho, que estão encerrando mandato neste ano.
Em discurso durante o evento, o deputado Roberto Pessoa falou sobre a quantidade de títulos de cidadão que já recebeu, “já até pensei em fazer um museuzinho, um memorialzinho. Já são quase 50 títulos de cidadania que eu recebo e preciso preservar”, e completou falando de sua atuação em Jaguaribara confessando que, na época da construção do Castanhão, votou a favor da cota máxima (sendo esta a que determinava a inundação da antiga cidade), “fiz um trabalho que eu sei que a população de Jaguaribara não gostou: trabalhei pela cota máxima. Sei que prejudicou as famílias, a tradição, mas Jaguaribara tinha que fazer sua missão pelo Ceará, pelo Brasil”.
Sessões na Câmara Municipal de Vereadores
A nomeação dos agraciados deste ano deu-se ao longo de algumas sessões na Câmara Municipal. As sessões acontecem às segundas, abertas ao público mas, mesmo assim, vazias de platéia. Com isso, os vereadores costumam apoiar as propostas que os convém.
Durante as sessões de nomeação, os vereadores nomeavam e tinham que defender porquê o nomeado deveria ser agraciado com o título ou comenda. Algumas pessoas presentes relataram ao Jaguaribara em Foco que alguns não sabiam responder e chegaram até a confessar que estavam nomeando por benefício próprio.
No site da Câmara, de fácil uso, é possível acompanhar as propostas dos governantes e, inclusive, quais foram os nomeados aos títulos dos vereadores.
O valor da memória
Os governantes, assim como o povo, são os guardiões da memória de uma cidade. Em uma escala, os governantes viriam antes, pois são os representantes do povo. O antropólogo Roberto DaMatta avalia, em entrevista à Folha de S. Paulo, que a entrega de honrarias e comendas é o reconhecimento de alguma qualidade, feito ou gesto fora do comum.
“O simbolismo da entrega tem a ver com a quantidade de vezes que a medalha é entregue. Se a medalha é dada todo mês, o seu valor é menor do que uma medalha estilo Oscar.”
Tristão Gonçalves lutou de forma voluntária pela memória de um povo que buscava se separar para protegê-la. Quando governantes demonstram pouco interesse em estar dentro da lei e dar estas honrarias a pessoas que busquem, de forma voluntária, que Jaguaribara seja apenas Jaguaribara e estes atos voluntários, quando confundidos com emendas, favores e cargos desmoralizam o valor da memória de um povo.
Por Lianne Ceará, estudante de Jornalismo (UNIFOR)
Tristão Gonçalves de Alencar Araripe foi um revolucionário, filho de Bárbara de Alencar (a primeira presa política do Brasil e também revolucionária), que participou da Confederação do Equador, movimento separatista contra o autoritarismo de D. Pedro I. O imperador, mesmo depois de um Brasil já independente, continuava ligado aos interesses da coroa. Tristão e os adeptos da Confederação reinvindicavam pelo direito do Brasil ser apenas o Brasil.
Tristão Gonçalves foi morto no combate em terras jaguaribarenses e é considerado um dos heróis da Confederação do Equador. Até hoje, sites e portais não reconhecem a terra que abrigou os últimos momentos de Tristão como Jaguaribara, e sim, Jaguaretama. E em uma terra que até hoje não foi reconhecida como a de sua morte, foi adotado o nome dele na maior honraria da cidade: Comenda Tristão Gonçalves de Alencar Araripe.
A Comenda foi criada em situação extraordinária, em 2019, quando a Irmã Bernadete foi contemplada. Irmã Bernadete também o símbolo de uma luta: a luta contra a inundação da antiga cidade pelo Castanhão. Em setembro do mesmo ano, um dos fundadores deste site, Francisco Cavalcante, também foi nomeado à maior honraria da cidade por ter levado o nome de Jaguaribara à nível mundial, quando participou do evento “Brazil Conference”, em Harvard, nos EUA.
Os nomeados de 2020
Aconteceu neste sábado (7), na Câmara Municipal, o evento de entrega dos títulos de cidadão e da Comenda Tristão Gonçalves, durante as comemorações do 63º aniversário de emancipação da cidade.
Com menos de um ano de criação, a lei da Comenda foi alterada em setembro, antes, podiam ser até dois nomeados por ano.
Em setembro, os vereadores alteraram a lei: agora, podem ser quatro por ano (imagem abaixo). Em ano de eleições, mesmo tendo alterado a lei, o legislativo jaguaribarense ficou fora dela. Doze pessoas foram nomeadas para a honraria.
Dentre os 26 nomeados ao título e à comenda, estavam os deputados Danilo Forte (PSB), Antônio Granja (PDT), Leonardo Pinheiro (PP), Mauro Filho (PDT) e Roberto Pessoa (PSDB). Além destes, nomes de figuras políticas do município também foram agraciados, como o prefeito Joacy Júnior e seu vice Zé Filho, que estão encerrando mandato neste ano.
Em discurso durante o evento, o deputado Roberto Pessoa falou sobre a quantidade de títulos de cidadão que já recebeu, “já até pensei em fazer um museuzinho, um memorialzinho. Já são quase 50 títulos de cidadania que eu recebo e preciso preservar”, e completou falando de sua atuação em Jaguaribara confessando que, na época da construção do Castanhão, votou a favor da cota máxima (sendo esta a que determinava a inundação da antiga cidade), “fiz um trabalho que eu sei que a população de Jaguaribara não gostou: trabalhei pela cota máxima. Sei que prejudicou as famílias, a tradição, mas Jaguaribara tinha que fazer sua missão pelo Ceará, pelo Brasil”.
Sessões na Câmara Municipal de Vereadores
A nomeação dos agraciados deste ano deu-se ao longo de algumas sessões na Câmara Municipal. As sessões acontecem às segundas, abertas ao público mas, mesmo assim, vazias de platéia. Com isso, os vereadores costumam apoiar as propostas que os convém.
Durante as sessões de nomeação, os vereadores nomeavam e tinham que defender porquê o nomeado deveria ser agraciado com o título ou comenda. Algumas pessoas presentes relataram ao Jaguaribara em Foco que alguns não sabiam responder e chegaram até a confessar que estavam nomeando por benefício próprio.
No site da Câmara, de fácil uso, é possível acompanhar as propostas dos governantes e, inclusive, quais foram os nomeados aos títulos dos vereadores.
O valor da memória
Os governantes, assim como o povo, são os guardiões da memória de uma cidade. Em uma escala, os governantes viriam antes, pois são os representantes do povo. O antropólogo Roberto DaMatta avalia, em entrevista à Folha de S. Paulo, que a entrega de honrarias e comendas é o reconhecimento de alguma qualidade, feito ou gesto fora do comum.
“O simbolismo da entrega tem a ver com a quantidade de vezes que a medalha é entregue. Se a medalha é dada todo mês, o seu valor é menor do que uma medalha estilo Oscar.”
Tristão Gonçalves lutou de forma voluntária pela memória de um povo que buscava se separar para protegê-la. Quando governantes demonstram pouco interesse em estar dentro da lei e dar estas honrarias a pessoas que busquem, de forma voluntária, que Jaguaribara seja apenas Jaguaribara e estes atos voluntários, quando confundidos com emendas, favores e cargos desmoralizam o valor da memória de um povo.
Por Lianne Ceará, estudante de Jornalismo (UNIFOR)