É indiscutível que a participação das juventudes [1] nos espaços de tomada de decisão constitui-se como instrumento democrático essencial para o debate político-institucional em qualquer sociedade. No âmbito de Jaguaribara, jovens de 15 a 29 anos representam, aproximadamente, 25% da população total [2], o que evidencia o papel estratégico que estes jaguaribarenses podem - e devem - exercer na identificação de problemas estruturais das comunidades e na proposição de mudanças viáveis e necessárias localmente.
Contudo, para discorrer sobre a importância do papel dos jovens e seus anseios no município, precisamos nos questionar sobre a questão central que dá título a este artigo: o que os jovens querem de Jaguaribara? Certamente, essa pergunta foi pouco designada a algum adolescente de uma comunidade rural, por exemplo, ou ainda, pouco foi utilizada na tomada de alguma decisão que afete a coletividade, posto a pouca atratividade dos espaços de poder local a essa parcela alinhado ao hiato desinteresse e desestímulo de participar democraticamente.
Na contramão desse contexto e em meio a uma pandemia global decorrente do coronavírus, o Jaguaribara em Foco se propôs a uma nova e desafiadora missão: mobilizar jovens de diferentes contextos e idades a atuarem proativamente em suas comunidades por meio da comunicação comunitária. Para isso, construímos redes de comunicadores e mobilizadores locais que têm interesses em comum e desejam impactar positivamente o lugar onde vivem e onde estão inseridos socialmente. Esse é um papel nobre e edificante para qualquer cidadão.
Tendo ciência da diversidade que esses mais de vinte jovens representam e das diferentes condições e perfis que estes possuem, recorremos a eles para identificar os seus anseios, desejos e necessidades quanto a Jaguaribara que queremos. De fato, percebemos que eles possuem muitos sonhos quanto ao presente e futuro, haja vista serem os principais afetados pela ausência de políticas públicas efetivas no lugar onde vivem.
Um jovem de 17 anos que vive em um assentamento disse que sente falta de uma praça e atividades de lazer para os jovens na sua comunidade rural. Outra, também da mesma idade e da sede, frisou: “precisamos de diversidade na área de lazer e entretenimento, como também um melhor planejamento político para o desenvolvimento da economia ser mais amplo”. Nestas duas falas, observamos o desejo por duas necessidades básicas em qualquer municipalidade: uma praça para socialização de laços e oportunidades econômicas de desenvolvimento mais amplas para todos.
Quanto a aspectos educacionais, o desejo por saber, aprender e formar-se também é destacado por alguns jovens da cidade. “Eu sinto falta de lugares que possam impulsionar os jovens a querer aprender cada vez mais, como uma biblioteca”, nos disse uma adolescente de 14 anos. Na mesma linha, outra de 15 anos, destaca: “sinto falta de ambientes que propiciem troca de saberes, de eventos para os jovens e adultos, como palestras e projetos que mobilizem a comunidade”. Uma jovem da zona rural relatou: “falta um lugar para fazer faculdade e cursos, pois muitos jovens estão concluindo os estudos e estão abandonando a cidade”.
Por último, e não menos importante, quase todos os jovens que conversamos são unânimes ao falar sobre geração de emprego e renda: “falta emprego para a população”, “precisamos de fábrica, pois temos muitos jovens desempregados por falta de oportunidades de trabalho” e “falta mais lugares de turismo e de lazer” são algumas frases ditas frequentemente por eles.
De forma geral, compreendemos que as juventudes locais sonham por uma Jaguaribara com mais oportunidades em diferentes contextos profissionais, econômicas, de lazer e cultura, educacionais, de participação política, entre outras. Os jovens jaguaribarenses querem uma Jaguaribara com cidadania plena em que os cidadãos estejam no centro do debate público e na criação de soluções efetivas para o presente e construção de perspectivas para o futuro desejado.
Nesses mais de 19 anos de promessas de desenvolvimento, Jaguaribara tem a missão de dar a volta por cima e ser ver como a potência histórica e cultural que é, além de ter em mente o seu principal patrimônio: as juventudes locais que construirão o futuro. Os desafios são inúmeros e instigantes frente aos entraves políticos e econômicos que se instalaram e ficaram nessas últimas duas décadas, entretanto, o discurso deve ser uníssono: precisamos nos mobilizar independente de partido político, participar ativamente dos espaços que nos são essenciais e nos responsabilizar criticamente pelo que temos e pelo que ainda não conquistamos.
Afinal, o passado de demolições e promessas não atendidas nós já temos. Hoje, o que devemos entender é que nós somos os únicos responsáveis pelo presente e futuro que queremos e que só a mobilização social e política poderá nos levar para o tão sonhado e prometido progresso. Para esses jovens, já passou da hora de sermos a Jaguaribara do futuro. Chegou a hora de sermos a Jaguaribara do agora!
[1] Neste artigo, empregamos o termo juventude no plural para designar a existência de múltiplos e diversos grupos sociais juvenis que, agregados, são propensos a ter diferentes variações em seu perfil.
[2] De acordo com o último levantamento do Censo IBGE (2010), Jaguaribara possui 2.864 pessoas entre 15 e 29 anos de idade, o que equivale a aproximadamente 25% da população total de habitantes.
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